15 outubro, 2007

Zaragata.

Terra, há milhares de anos atrás.





Marramed Phaibe levantou-se bruscamente sentindo o ar fresco inundar-lhe os pulmões. Ainda sentia o calor em suas mãos onde o curandeiro havia o segurado firme ao pronunciar certas palavras. Não entendia o que tinha lhe feito; fosse o que fosse, estava vivo.

A linda mulher de olhos claros, filha do chefe da tribo, o empurrou forçando a deitar-se novamente.
O curandeiro ainda na porta de pano virou-se e o olhou fixamente:

"- Você que vive novamente pode decidir o que fazer daqui pra frente. Agora você sabe o poder de suas ações." - e se foi.
Marramed Phaíbe, mensageiro dos mais profundos conhecimentos da ciência, não sabia que mexer com a alma da terra era mexer com a essência da criação de toda uma humanidade.




.....................................................................................................................................................

Em um planeta distante.





Randorz Phaíbe sentiu que ia lhe faltar forças para ficar em pé. De joelhos, foi erguido por Dharmilo que o ajudou a levantar-se. Sentia a mão lhe queimar e foi difícil focar a visão em algo que não se mexia.
O pequeno homem demonstrava grande força ao segurar Randorz que ainda sem saber o que estava acontecendo, perguntou: - Onde estou?
- A pergunta é, aonde você vai? - Acrescentou Dharmilo.
Randorz entendia agora a importância de sua missão; Um planeta precisava de sua ajuda. De um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde, alguém de sua raça, de sua linhagem, teria que consertar o que foi quebrado há milhares de anos atrás.
A mágica divina é um círculo inquebrável que faz parte de uma grande engrenagem que se expande infinitamente. Círculos vão se formando dentro de uma matemática complexa tendo como resultado, não importando local, planeta ou universo, um único objetivo: Criar sempre.
Mexer nos cálculos da criação é colocar dois universos no mesmo lugar; O paradoxo de uma dimensão não reconhece a duplicidade de uma ação para dois objetivos, e sim, várias ações para um só objetivo: Evolução. Há uma desequilíbrio entre a criação e a evolução, mas nada que a mágica divina não atue.
Randorz Phaíbe já recuperado e lúcido, responde com um leve e estranho sorriso:


- Irei ao planeta terra.







.......................................................................................................................................................


Terra, na época de hoje.



Senti uma dor incrível no peito, mas a mão doía mais, como se houvesse brasas incandescentes entre os dedos. Phaíbe olhou-me preocupado, mas ainda possuía aquele ar de ironia. Levantou-me e disse pausadamente:
- Você agora passou para o estágio três e, mais do que nunca, a sua atuação quanto a divulgar o que tenho para ensinar é da maior importância. Você não vai ver mudanças de imediato; não vai ser diferente das outras pessoas, as mesmas que não acreditarão em nada no que você falar; vai chegar um momento em que a solidão vai doer tanto que vai se imaginar definhado e desequilibrado numa realidade que machuca.
- Existe uma lenda antiga aqui no seu povo - continuou -. É sobre a criação do ser humano. Uma lenda que narra que no momento da procriação, o criador chama o embrião do futuro ser diante dele para decidir sobre as condições de existência da nova alma: se será macho ou fêmea, rico ou pobre, sábio ou tolo, alma gêmea positiva ou negativa de outrem e assim por diante. Apenas uma decisão ficou em aberto, se a pessoa será virtuosa ou falfeitora, pois "tudo está nas mãos do criador, exceto o temor a ele". A lenda prossegue descrevendo como a alma pleiteia não ser mandada a este mundo. Mas o criador responde: "O mundo para o qual estou lhe enviando é melhor do que o mundo em que voce estava e, quando lhe criei, eu o destinei a esse quinhão terrestre". Com essas palavras, o criador confia a alma ao anjo encarregado de todas as almas no outro mundo. O anjo lhe revela todos os segredos do outro mundo e a conduz através do céu e do inferno. Todavia, quando ela nesce nesse mundo, o anjo apaga a luz do conhecimento, e a alma é encoberta num invólucro terrestre sem o grande segrêdo que ela terá de conquistar de volta.
- E que segrêdo é este, Phaíbe?

- Demorei a entender quando tentaram me explicar, mas hoje eu sei: zaragata.

Fiquei ali imaginando se o abanar das asas de uma borboleta poderia interferir com o destino de todo um planeta.






Nenhum comentário:

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.