24 julho, 2007

Meditando IV

"Só tão alto quanto o que alcanço
posso crescer,
só tão longe quanto exploro
posso chegar,
só na profundidade para que olho
posso ver,
só à medida que sonho posso ser."

(Karen Ravn)


"A verdadeira viagem da descoberta consiste não em procurar
novas paisagens, mas em vê-las com outros olhos."

(Marcel Proust)



No silêncio você pode ouvir a susurro do infinito.

20 julho, 2007

Alma Gêmea (parte II, o início).

Na escuridão surgiram dois grandes olhos assustados. Havia algo de errado; O alarme da nave, de desvio de rota, soava insistentemente.
- Luz - disse em voz tremida. E quando a luz surgiu, descobriu que estava flutuando.
Foi com grande sacrifício, na ausência de gravidade no interior da nave, que conseguiu chegar na pequena sala de comando. Sentia tudo tremer. O oxigênio diminuía consideravelmente e a falta de gravidade, o assustava desesperadamente.
"Mas o que tinha acontecido?" - pensou.
O desvio de rota era quase impossível mediante ao programa instalado sistematicamente pelo governo. Seria impossível alterá-lo,visto que, fora programado para ser acessível em cinquenta anos e havia se passado apenas quinze.
Estava sangrando. Procurou em seu corpo e descobriu que alguma coisa lhe varou a coxa esquerda espetacularmente. Meteorito. "Sorte" - pensou. O minério podia ter perfurado o coração, a cabeça ou algum órgão vital. O aparelho gravitacional tambem foi atingido; foram atingidos a sala de mantimentos, a estufa e alguma parte direcional. "Sorte". A reserva d'água estava intácta.
A proteção da nave tinha suas restrições quanto alguns minérios do universo. "Sorte" - falava e repetia várias vêzes para sí. O que mais lhe assustava era a falta de gravidade. Se não reparasse o aparelho gravitacional a morte seria horrível; atrofia muscular e degeneração óssea eram as piores das outras complicações vitais. A morte seria lenta e dolorosa.
Descobriu que a nave se dirigia para um grande planeta vermelho, ou melhor, descobriu que o campo gravitacional daquele planeta dava um novo rumo ao seu destino. Se não calculasse rapidamente uma porta de entrada, a sua nave se chocaria na atmosfera vermelha e o seu fim seria inevitável.
O calor era insuportável. O ouvido parecia querer explodir. A nave parecia partir-se em duas. Agora sentado por causa da gravidade do enorme planeta, e quase sem ar, procurava estabilizar a aeronave tentando ignorar toda a vibração e todo o barulho ensurdecedor. Fora treinado para isso. "Sorte, sorte, sorte".
A nave deslizou por sobre uma grossa e densa camada de líquido vermelho. Quando parou, depois de ter percorrido uns dois quilômetros, a nave cessou, sem afundar. A porta foi aberta e uma grande quantidade de fumaça saiu por ela, para depois, torcindo, o rapaz lançar-se sobre uma pequena plataforma que se esticou sobre aquele mar vermelho. "Sorte. Sorte. Sorte."
Qual a probabilidade de passar por uma chuva de meteoritos, coordenar uma entrada manual com cálculos rápidos e precisos, pousar numa substância que mais tarde descobrira que era vários tipos de componentes químicos como ferro, lítio, mercúrio e uma espécie de substância estranha que não deixava-se solidificar. E o mais difícil; o planeta ter oxigênio. Mesmo em quantidade mínima, mas o suficiente para mantê-lo vivo em quanto expelia os gases de seu pulmão. Qual a probabilidade de estar vivo?.
Sim, sorte existia e alguem a controlava, porque até então, desde pequeno, sempre escutou que a sorte era o produto de inúmeras probabilidades interagindo com um fato. Não. Sorte existe e é incalculavelmente presente, pois ele estava vivo.
Ainda assim, não podia respirar por muito tempo aquele ar pesado. Apressou-se no conserto de sua aparelhagem e já podia fazer quase tudo, ainda que manualmente.
O mêdo de um predador havia sumido há muito tempo em sua escalada evolutiva; estava em outro planeta e dezenas de sinais circulávam sistematicamente em baixo de sua nave. Enquanto trabalhava, os olhos procurávam a pequena tela na espectativa de uma possível alteração na presença de vida que se movia lentamente, como se o estudasse para devorá-lo há qualquer momento de sua distração.
A perna lhe doía mesmo com altas doses de analgésicos pois havia perdido uma pequena parte de sua carne. Sabia que ía ficar com algum tipo de sequela mas procurava não pensar.
A nave começava a afundar. O líquido entrava pelos buracos deixados pelos meteoritos que vararam a nave de um lado a outro. Fechou a sala de comando e procurou pensar rápido. Já podia voar alguns quilômetros pelo menos mas se ligasse o seu reator, com certeza aconteceria alguma reação em cadeia com o líquido em sua volta.
Não havia nada a fazer. Jamais imaginou que este seria seu fim. E não demorou muito.
Silêncio.
A nave estava no fundo. Apenas algumas luzes piscávam mas a escuridão estava em algum lugar.
Finalmente - pensou -, esse seria o seu fim.
Escutava agora, o barulho ensurdecedor do silêncio.

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.