16 março, 2008

O Avatar(A batalha Final).

Foram quarenta dias na mais completa solidão, mas quando senti o chão arenoso da Palestina, vi o como foi útil conhecer-me na intimidade nesta solidão profunda.
Só na linha ténue que separa o comodismo do desespero de sobreviver, podemos saber quem realmente somos e o que somos capazes de fazer na mais completa loucura.
Cada grão aquecido pelo sol, construía agora o meu corpo dando a velha forma antes perdida nas margens do tempo entre o futuro e o passado. E ainda dormente pela viagem, podia sentir o cheiro doce de azeite e um forte cheiro de estrume.

É fácil de imaginar que Jesus não ficou quarenta dias sem comer e sem beber em pleno deserto, mas sozinho em algum canto em sua solidão profunda na mais absoluta reflexão de sua vida. E a sua consciência divina, com certeza, travara uma verdadeira batalha pessoal no que seria induvidavelmente, as tentações diabólicas de seu auto ego.
Também assim foi um pensamento errado em que se acredita que os avateres subiam grandes montanhas para falarem com Deus, mas assim como no deserto de suas almas, a elevação de seus pensamentos supremos, figuravam as grandes escaladas em grandes montanhas. E foi assim que descobri que a história antiga é cheia de figurações que realçam os anseios da imaginação.

Descobri e entendi que tudo que a gente quer fica justamente fora da zona de conforto, que é necessário sacrifícios para se ter o sucesso em adquirir os nossos desejos. Não devemos desistir nunca dos nossos sonhos e sempre dizer para nós mesmos que o fracasso é impossível. A determinação é tudo para o sucesso.


Escutando aquele homem simples falar de coisas simples dando ênfase da extraordinária mágica de criação, realmente é uma verdadeira viagem, principalmente quando se é conhecedor do futuro e sabe que serão poucas as pessoas que o seguirão com invejável fervor.


Na verdade, Jesus pregava o amor. Ele não falava de religiões, de obrigações religiosas ou da necessidade de rituais místicos para se alcançar os reinos dos céus. Apenas, amar uns aos outros como se ama a si mesmo. E é só. A sua determinação em ter paciência com os homens de pouca fé era impressionante. Quando escutava as suas mensagens, as suas estórias, os seus sermões, eu poderia ser dono do mundo se quisesse. Jesus era um ser humano admirável.



Entre as centenas de pessoas havia um homem que me fitava sistematicamente. Estranhei pois não era fácil me perceberem. Phaíbe me treinara com sucesso na arte de me passar por "insignificante" - dizia ele. Podia subir em pleno palanque diante de milhares de pessoas e nenhuma delas iria perceber. Nada de mágico, mas ser alguém sem importância usando movimentos simplórios, isso sim, era magnífico.
E há o mais difícil, pode não parecer: É não mexer no passado, não induzir o pensamento de ninguém, não pegar e não colocar nada de um lugar para o outro. Estes atos iniciaria uma cadeia de acontecimentos inimagináveis e irreparáveis. Por isso, estranhei o poder de observação daquele homem. Algo estava acontecendo e não sabia o que era.Decidi fazer o mais lógico: misturar-me na multidão e tentar esconder-me sem grande alarde.

- Caifás! - Uma mulher gritou apontando-me para aquele homem barbudo acompanhado de dois grandes guardas empunhando as suas lanças. Lançaram-se ao meu encalço.

Nunca senti tanta agilidade ao correr: benefícios da adrenalina.

Vi ao longe que não poderia ir mais além, pois um rio estava em meu caminho, mas ainda assim, corri desesperadamente ao seu encontro. Lá ao longe, vi que os três homens ainda corriam atrás de mim. Olhei para o rio e pulei. Talvez aqueles homens não soubessem nadar - pensei -, e a minha fuga já estaria traçada. Mas no fundo do rio, deixando a correnteza me levar, ainda pude observar que alguma coisa caira no rio. Pressentia que não era nada de bom. Com grande esforço nadei para mais fundo tentando atravessar para a outra margem até que o ar me faltara e me vi obrigado a subir para respirar. Os homens lançaram as suas lanças e sorri quando me vi fora do alcance delas. Respirei três vezes até que alguém me puxara para baixo. Ainda que guardasse o terrível desejo de acabar com a minha vida, por uns instantes fiquei entorpecido por sua beleza. Os olhos verdes, ainda que submersos, ainda brilhavam infinitamente. Os lábios carnudos ainda que cerrados pelo esforço de segurar a respiração, eram perfeitamente torneados e convidativos. O seu corpo parecia despido com aquela roupa colada ao corpo. Via perfeitamente todo o contorno de seu quadril e todo o volume de seus seios. E os cabelos negros, numa dança exótica ao rítimo de uma maré imaginária, levava-me para mais fundo numa viagem que me adormecia vagarosamente desprendendo-me de minha alma.



- Invoco aos seres do reino angelical para que se acerquem de meus quatro corpos pela ação do amor divino. Em nome do Eu sou o que sou, invoco aos hierarcos dos seres dos elementos e aos elementos que servem no 3° raio. Aos seres do ar, fogo e água e aos da terra, livrai-me com o raios da chama rosa.

Miguel, Miguel, Miguel, lançai a chama do 3º raio e LIVRA-ME.

A sombra de um grande dragão surgiu por trás daquela linda mulher, e quando parecia lançar um ataque, o monstro gritou ao ver e sentir uma espada flamejante de cor rosa penetrar-lhe o peito. Phaíbe me ensinara a usar com responsabilidade os sete raios em meu benefício e se essa era a hora ou não, foi a primeira coisa que me veio a cabeça. A linda mulher, desmaiada, afundava cada vez mais. Usei toda a minha força para alcança-la e tentar leva-la à tona. Mas não deu.


Cheguei a gritar quando consegui segurar um tronco preso numa espécie de planta que flutuava com a correnteza do rio e fiz grande esforço para o ar entrar em meus pulmões. Ao longe, os homens me olhavam desanimados pela minha fuga, e no espelho da água, a imagem distorcida de um arcanjo do 3º raio que sorria pra mim. A esta altura, não sabia se realmente estava vendo alguma coisa. Só sabia, que eu estava vivo.


Estava cansado e não foi difícil decidir que estava na hora de ir para casa. O sol da Palestina esquentava muito, mesmo já se escondendo ao horizonte. A noite seria fria como era de costume neste lado do planeta: Dia quente, noite fria; Do jeito que eu estava, não resistiria a esta brusca mudança de temperatura. E hoje, meu coração está frio, ainda que tenha sobrevivido a uma grande batalha. As vezes, o inimigo se torna um grande aliado, pois ele nos faz fortes e resistentes para sobrevivermos nas outras maiores batalhas.



Obs.: Em memória de uma linda e grande guerreira.





03 março, 2008

A Renovação.



Algo me perturba e não sei o que é. Talvez por isso não tenha conseguido viajar (desdobrar-me) nos últimos dias. Só em saber que em algum lugar há alguém que quer dar cabo de minha vida... Acho que o bom senso me faz ficar preocupado.
Só agora me dei conta que fico mais tempo do outro lado do que aqui, no plano físico. Pode parecer loucura, mas ficariam surpresos o como as pessoas viajam inconscientemente e o como são monitoradas por seus tutores (anjos da guarda?) Talvez por isso, o acúmulo de inúmeras viagens em um curto espaço de tempo, tenha me transformado numa pessoa anti-social; A multidão me assusta, o barulho me deixa tonto e o assunto informal, me irrita e me deixa louco da vida. Pela primeira vez na vida sei exatamente o que significa a palavra medo.
Tenho a certeza que estou sendo seguido. Alguém me observa de longe, me estuda, me analisa. Constantemente estou vendo vultos, luzes estranhas, reflexos abstratos. Uma vez notei que as pessoas em minha volta caminhavam em “câmera lenta”. Conseguia ler os seus pensamentos de forma arrastada e confusa como se elas murmurassem gemidos ou algo parecido sem nexo e sem lógica. Também uma vez fiquei olhando um trocador falar comigo, e eu assim, em pleno transe, tentando entender o que ele dizia:
- Tem que passar o riocard de novo. Demorou muito para passar na roleta. – Disse ele já em voz alta conseguindo me acordar.
Em casa, quando olhei para o espelho, o reflexo que vi foi aterrorizante: A imagem de um homem magro, barbudo, olhos vermelhos e sem vida. Fiquei muito tempo ali tentando encontrar alguma coisa de mim naquele corpo pálido.
“O que estava acontecendo comigo?” – pensei.
Depois de um banho gelado, molhado e nu, deitei-me encolhido no chão frio olhando para o vazio. Sentia dor, mas não sabia onde, respirava fundo, mas o ar não me satisfazia, procurei não pensar, mas imagens de pensamentos passados me transportavam para inúmeros lugares. Fechei os olhos e me perdi, talvez, uma dessas dezenas de pensamentos incompletos.
Lembrei-me da águia em seu mais belo vôo em um céu azul e sem nuvens. Aquela águia tinha me ajudado em uma de minhas viagens. Fiquei entorpecido ao lembrar do vento forte lhe inundando as penas com um cheiro doce e fresco do amanhecer. Minha alma naquele momento, em pleno gozo, inevitavelmente fundia-se com alguma coisa dentro dela, talvez, o bafo da vida.

A águia consegue atingir a idade de 70 anos, mas para isso, na metade de sua vida, ela tem que tomar uma decisão: Ou se entregar e morrer, ou enfrentar um processo longo e doloroso de renovação. Sim porque as suas unhas ficam compridas e moles e ela não consegue mais agarrar pequenos animais. O bico que era forte e pontiagudo, aos 40 anos fica curvo impossibilitando a caça. As suas asas ficam envelhecidas e pesadas e o vôo fica cada vez mais difícil.
Ao escolher sobreviver, ela voa para o alto da montanha e lá ficará em plena solidão. Ela corajosamente baterá o bico na pedra até arranca-lo, pois ela sabe que um outro nascerá ainda mais forte. Com este novo bico, arrancará as suas velhas unhas para que outras venham a nascer, e com as novas unhas arrancará as velhas penas para dar passagem para uma nova plumagem. E após esse dolorido processo natural proveniente de sua escolha, sai para o famoso vôo de renovação e para viver mais 30 majestosos anos.


Todos nós somos um animal que tem o seu tempo de renovação.


Obs: Eu vou sobreviver.

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.