10 outubro, 2007

Alma Gêmea. (parte VIII, o início).

Marramed voltou diferente. Alguma coisa tinha acontecido além continente que o fez transformar-se em uma pessoa difícil de se conviver.


A nave voltou pior do que estava. Era visível o dano em sua estrutura. Marramed Phaíbe pousou a nave em uma colina e lá a deixou por vários meses sem nem ao menos se preocupar em escondê-la.





Os que sobraram da tribo, que sobreviveram de uma doença que desmanchava as vísceras impedindo a coagulação do sangue - um vírus proveniente de outro planeta -, seguiram além das montanhas na esperança de encontrarem novas terras para se estabelecerem.





Marramed e seu filho com a mulher partiram para o interior da floresta; Aos olhos de Lilith, filha do curandeiro da tribo, tal fato desencadeou uma grande inveja e sem pensar, usou da magia para adoecer a mulher que tanto Adão amava. A linda mulher durou três dias. Apesar dos sintomas serem diferentes da antiga peste, todos imaginaram que ela também tinha sido contaminada.



Adão entrou em desespero e tentou se matar - sentimento estranho para um damaliano -, pensou Marramed. Este, não encontrando outro jeito para amenizar o sofrimento do filho, decidiu usar todo o conhecimento de sua antiga raça quanto a medicina exobiológica. Há muito dominavam o cadenciamento do genoma de espécies e tinham um conhecimento amplo sobre clonagem humana. Usaria tudo que tinha em seu computador de bordo para dar vida novamente àquela que tanto seu filho amava. Ainda dava tempo.


Por um lado, o curandeiro usava todo o seu conhecimento de alta magia para resgatar a vida naquela mulher; por outro lado, Marramed usava complicados aparelhos que conseguiu de uma raça que governava o povo Atlantes.

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Adão estava nu sobre uma mesa fria e antes de dormir profundamente, sentiu a picada da enorme agulha que o atingiu uma de suas costelas.

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O sol brilhava com todo o seu vigor, mas os raios não conseguiam penetrar a vasta floresta, virgem da mão do homem. Ao longe se via uma pequena cascata com suas águas gélidas ainda que não se pudesse escutar o som de sua queda; pássaros voávam por entre as altas árvores frutíferas e pequenas borboletas coloriam o magnífico cenário perfumado pelas várias espécies de flores.



A porta da nave se abriu deixando sair uma pequena rampa que quase tocou o chão. Um corpo de mulher apareceu e cambaleando, andou até tocar o chão. A claridade parecia lhe incomodar, pois quando tirou as mãos do rosto Adão pode ver que era a sua amada; Bela e formosa como sempre foi. Atrás, descia Marramed com ar de cansado que a olhou com certo orgulho. Adão abraçou a sua mulher e chorando deixou escapar o nome de sua amada: - Eva.

- Vamos Elohim, vamos deixar os dois sozinhos. Disse o curandeiro com o corpo completamente pintado com símbolos estranhos. - Símbolos antigos - dizia ele.

Há muito a tribo o chamava de Elohim, pois acreditavam que quando uma pessoa morresse e voltasse a viver o corpo passaria a possuir um outro espírito mais evoluído e com uma missão mais importante.

Lilith sabia que não podia entrar na nave e principalmente mexer no computador. Ainda assim, nos meses que se seguiam, conseguiu convencer Adão a levar as duas para o interior do grande objeto redondo. Lá, mostrou o como era fácil de ligar aquele grande e colorido aparelho.


A grande tela passou a narrar toda a aventura da raça damaliana através dos tempos, através dos planetas; O grande computador, numa linguagem simples, ensinava todo o tipo de ciência e não era difícil para um damaliano entender o que se passava alí. Descobriu inclusive, como Eva voltou a viver; cópia exata de uma outra.



Quando Marramed descobriu o que se passava foi tomado por uma ira incontrolável, pois sabia o que poderia acontecer com o conhecimento nas mãos erradas; Atlântida estava com os dias contados -, pensou.
Sabia que tinha que tomar uma decisão. Olhou para o seu filho e tentou dizer algo mas não conseguiu. Decidido, subiu a rampa de sua nave para depois fechá-la. Em poucos minutos, um estranho barulho surgiu e a nave saiu do chão.



Uma forte luz cortou a noite e banhou Adão o ofuscando. A grande nave, colorida e brilhante, ganhou altura em poucos segundos.



Marramed Phaíbe ainda viu a claridade do dia que se ía silenciosamente do outro lado do planeta terra. E antes de entrar na câmara criogênica, calculou o curso da nave em direção ao sol.



Antes de sentir um frio imenso inundar-lhe a mente um vago pensamento surgiu como um raio em sua lógica de damaliano:



- Um mensageiro do universo jamais daria cabo de sua propria vida. Abriu os olhos e ainda pensou: -Era contra as leis da criação.



Já era tarde de mais.






2 comentários:

Anônimo disse...

Sem dúvida, uma das melhores estórias que li aqui desde o início. Deu pra sentir o desespero e a intensidade a cada parágrafo. Parabéns! Um belo texto.

Cris Penha disse...

Quero mais...mais...

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.