09 maio, 2007

A morte.

O cenário devastador causava-me arrepios. Nunca se sabia o que poderia aparecer em cada esquina, em cada rua, em cada destroço. Gritos horripilantes e gemidos tétricos acompamhávam aquelas cenas extraordinárias, quando não, corpos carbonizados, mutilados, jaziam inertes e silenciosos em algum canto a ermo, ou amontoados como de propósito na intenção de um destino fúnebre e coletivo.
31 de janeiro de 1991. Havia rumores de que 500 iraquianos tinham morrido, que os hospitais atendiam milhares de feridos, e de que os aliados possuíam 23 prisioneiros.
O porto Saudita de Khafji, a 20 Km da fronteira Kuwait-Arábia Saudita parecia um território fantasma. Helicópteros Apaches cruzávam os céus. Dezenas de tanques T-55 iraquianos estávam destruídos ao longo da estrada. O cheiro de pólvora e adrenalina pairáva no ar. A destruição era total. Dava para se ver ao longe, campos de petróleo em chamas. A fumaça negra pintava de morte, o azul celeste sobre as nossas cabeças.
Phaíbe chegou a comentar, que ouvira de dois marines, sobre helicópteros britânicos Linx e aviões americanos F.18 e A-6, que afundaram cinco lanchas patrulhas da armada iraquiana.
Isso tudo me fêz pensar.
- Phaíbe, o que acontece depois da morte?
- Morte? - a sua risada descofigurava aqueles ares fédidos. Continuou: - Tudo que se vê está em eterna transformação. Tudo que se vê e o que não se vê. E por quê achas que logo a morte o livraria da responsabilidade com o todo, se é ela a sua única aliada que o leva a perfeição?. Da mísera bactéria ao explodir de uma estrêla, a transformação em algo mais se faz presente no dia a dia através de toda uma eternidade. Já disse, a química no plano físico, está convertida numa fórmula divina denominada alfa e ômega com os opostos se atraindo; uma química necessária que se interliga com ela mesma, nunca se acabando, mas se transformando.
- Só vamos conhecer a verdade depois dessa pra melhor, né?.
- Não confia em mim?.
- Confio, mas a dúvida continua: pra onde eu vou? quem sou eu? a morte dói?
Escutávamos bombas explodindo, e não era longe. Phaíbe continuou:
- No plano físico acontece como lhe disse; no plano espiritual a química continua apesar de ser uma química mais sutil. O plano espiritual não deixa de ser um mundo como outro qualquer e lá há residências, escolas, hospitais, mentores, guardiões, anjos. Nada que possa lhe surpreender.
- Como não? Eu ainda estou neste mundo e "tô"surpreso. Eu "tô" vivo, não?.
- Tá sim. Mas vai chegar a hora de seu desligamento. Voce vê quanta matança?. A passagem aqui na terra é as vezes penosa para aqueles que se prendem à matéria e viveram mais para os bens deste mundo do que para o outro. Lembre-se sempre disso: Aqueles cujos pensamentos estão elevados ao infinito, e estão desprendidos da matéria, os laços são menos difíceis de romper, e os últimos momentos não têm nada de doloroso e nem de dar mêdo. A alma é eterna, então, nada como regá-la com amor e compaixão pelo próximo. Tudo que voce vê, é pruduto do poder. Lute por aquilo que não se vê. Não precisa ver Deus para acreditar em sua existência; Sinta-o.
Phaíbe apontou alguem que andava de um lado a outro, aturdido, olhando para um corpo em pedaços que sangrava ao chão. O homem chorava e gritava desesperadamente. Fiquei assustado quando reparei na semelhança do dois. O homem havia morrido, e o que ele via naquela poça de sangue, era o próprio corpo partido ao meio por uma rajada de uma P.50.
Phaíbe me apontou outra pessoa. Sorriu ao vê-la caminhando em direção a um túnel de luz. Disse:
- Eis uma alma que deixa seu envoltório terrestre para retornar ao mundo dos Espíritos, sua verdadeira pátria; possa nele entrar em paz, e vossa misericórdia meu pai, se estender sobre ela.
Já não tinha mais mêdo da morte; Quando se trilha no caminho do bem, o universo conspira a favor; A intercessão daqueles que nos quer bem nos fará melhor e mais forte, e mais confiante tambem. A morte é apenas uma outra página de um livro que desfolheia na brisa sutil de um vento frio. O livro é grande e as estórias são eternas. "O criador tem uma grande imaginação".

Um comentário:

Anônimo disse...

Como diria Fernando Pessoa: A vida é uma estrada onde almas se encontram e se separam. A morte, é uma curva na estrada. Morrer é só não ser mais visto.

Um abraço.

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.