06 agosto, 2007

Alma Gêmea. (parte III, O Início).

Lembrava-se quando mais jovem, na solidão de sua caminhada nos montes Altos na cidade de Zaraf, que o vento nas folhagens era o único som que cortava o silêncio em sua volta. A paisagem que sempre lhe entorpecia a alma, parecia a cada dia, mais distante de sua lembrança. Esforçava-se em lembrar das fisionomias de alguns amigos que fizera antes de partir. Sentia agora, as armadilhas do tempo.
Os damalianos tinham como cultura, guardar na memória, toda a árvore genealógica de sua linhagem. Quando havia alguma festividade, alguma cerimônia dos tempos antigos, cada primogênito de cada clã tinha que recitar toda a linhagem em voz alta e firme, demonstrando um equilíbrio impecável e reverência aos antigos que se foram.
Sentiu a nave tremer. Foi quando notou que estava claro do lado de fora. Não estava mais submerso e várias criaturas de pequeno porte puxavam a sua nave, com ajuda de um enorme e estranho veículo que não emitia um único som, mesmo com o grande esforço que fazia. Eram pequenas criaturas esqueléticas que se espremiam procurando a melhor posição para puxar com firmeza. E ao longe, um homem não tão alto porém de uma estatura maior do que aquelas criaturas, observava com atenção o trabalho organizado daqueles pequenos seres que já faziam algumas dezenas de metros.
Assim como surgiram, todas aquelas criaturas sumiram de sua visão. Mas o homem, calmamente andou para a porta de entrada. Bateu três vezes. E o jovem negro, mancando, indeciso, trêmulo, levou a mão três vezes ao cristal de abertura da porta, antes de decidir em abri-la.
Só bem perto do homem já idoso, que notou um pequeno aparelho que saía de suas narinas. O homem sorridente, balançou a cabeça parecendo cumprimentá-lo. O mesmo fez procurando não constrangê-lo. O homem falou:
- Dharmilo, o seu interprete.
Ficou surpreso que falava o seu idioma, e mais ainda, qual idioma falar sem antes conhecê-lo. Respondeu:
- Randorz, filho Jadlan Phaíbe, filho de Jurzax Phaíbe, que é filho de .....- notou que alguma coisa estava errado: parecia que alguma coisa em sua garganta o impedia de falar normalmente.
- Respeito a sua família com grande honra mas não é necessário falar toda a sua geração enquanto a porta está aberta.. É melhor fechá-la.
Randorz simpatizou de imediato com aquele pequeno homem que parecia não medir as palavras ao expressar-se.
- Voce agora está seguro. Deu sorte de cair aqui perto da margem e faltando apenas seis dias para a maré recuar. A cêra de cristal galvaniano protegeu bem a sua nave neste tempo que estava submerso. Os samitas já consertaram os buracos externos, resta dar o acabamento e isso só voce sabe fazer.
O homem lhe fitou seriamente em seus olhos parecendo procurar algo que não entendia.
- Voce está muito contaminado. Temos que levá-lo imediatamente pra tirarmos todo esse minério em seu sangue.
Sentiu vontade de rir freneticamente e não sabia o porquê. Estava muito tempo deitado já convicto em seu destino horrível, talvez por isso, as pernas estávam pesadas. Só agora podia ver que o seu ferimento estava horrível. Não sentia dor porque a quantidade de anestésico e as vêzes que tomou, tinha sido muito grande. A cabeça doía.
O velho homem correu para segurá-lo. Sentiu na face uma leve brisa dos montes Altos de Zaraf. As estrêlas pulávam de um lado a outro num céu profundo. Pássaros brancos mergulhávam numa água de um infinito azul cristalino. Núvens surgiram do horizonte onde apenas um sol amarelo reluzia magestoso. Uma vegetação verde surgia do chão cobrindo uma grande extensão de terra. Parecia que todo o planeta explodia na mais perfeita harmonia, num azul que envolvia todo o orbe terrestre. Era um planeta azul que reinava magestosamente. E ao longe, bem ao longe, escutou uma voz que susurrou: - Terra.

Um comentário:

Arthurius Maximus disse...

Terá continuação? espero que sim, sinto que essa história vai dar o que falar.

Saudações

A verdadeira religião, é a do coração.